quinta-feira, 26 de maio de 2016

Por que a violência contra a mulher é, necessariamente, machismo?

Estou profundamente doída com as notícias deste 26 de maio. Uma adolescente estuprada por 30 homens. Uma estudante da Rural que se suicidou em consequência de um estupro. Não podemos tratar esses casos isoladamente. Não podemos achar que isto é natural. Não podemos relativizar as circunstâncias. Elas são vítimas. Elas foram brutalmente agredidas por homens.

Homens que ganham espaço na televisão (caso BBB), que ganham espaço no governo federal (Alexandre Frota já admitiu estupro em rede nacional e foi consultado sobre como educar nossas crianças e jovens pelo ministro interino da Educação).

Os números mais atualizados sobre violência contra a mulher são relativos a 2014.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil (considerando os casos registrados). O Anuário Brasileiro de Segurança Pública diz que em 2014 foram registradas 47.646 ocorrências de estupro no Brasil. E 5.042 ocorrências de tentativas de estupro. O próprio documento informa que os números não correspondem exatamente ao número de vítimas, já que em uma ocorrência pode haver mais de uma vítima. São Paulo registrou 10 mil estupros e 634 tentativas. 

Imagem da internet
Os números são alarmantes, mas, repito, são os registrados. Não sabemos quantos casos não registrados existem. Mas sabemos que eles existem. E aos montes. Nós não queremos denunciar nossos companheiros. Não queremos denunciar o pai dos nossos filhos. Não queremos que nossos filhos sofram com a ausência do pai. Não queremos ser expostas a uma sociedade que antes de nos defender nos pergunta o que fizemos para merecer isso.

Por dia, 13 mulheres são assassinadas. O Sudeste está no topo da lista: 1.592 assassinatos naquele ano. São Paulo é o estado campeão, com 609 mortes de mulheres. A região Nordeste está em segundo lugar, com 1.513 casos. Região Sul: 596 assassinatos. Região Centro-Oeste: 541 assassinatos. Região Norte: 470. Também em 2014, o Ligue 180 (central que recebe denúncias de violência contra mulheres) foi procurada por 52.957 denunciantes. Desse total, 77% afirmou sofrer semanalmente as agressões. Em 80% dos casos, o agressor era da família.

Diferentemente da violência sofrida por homens, as mulheres são vitimadas por pessoas de seu convívio. São casos que envolvem dependência emocional, afetiva, financeira. São maridos, pais, companheiros ou ex-companheiros que se sentem donos dos corpos dessas mulheres. É por isso que necessariamente toda violência sofrida contra a mulher é de gênero. É machismo. É misoginia (ódio às mulheres). Acontece porque ela é mulher. Acontece porque algum homem se achou no direito de exercer domínio sobre ela.

Por isso, quando uma de nós tomba, todas tombamos. Quando uma de nós é violentada, estuprada, dilacerada, todas somos. Quando uma de nós morre, todas morremos. 

E também por isso deve crescer nossa indignação e nossa reação a cada notícia, a cada caso. E também é por isso que o feminismo é tão necessário nos nossos dias.

O que elas fizeram? Que roupas estavam usando? Aonde estavam? Estavam drogadas? Alcoolizadas? Era muito tarde? Era muito cedo? O local estava deserto? Ah, também, fica andando sozinha...

Vejam, não há o que questionar junto à vítima! O foco de questionamento é o agressor! Os estupros acontecem porque existem estupradores! Não é por causa da roupa das mulheres. Não é pela postura delas. É e sempre será pela postura deles!!!!

Então, cuidemos (pais e mães que leem este blog) para que nossos filhos não reproduzam a violência de gênero. Não reproduzam o machismo. Nem a homofobia. Cuidemos para que não achem normal passar a mão sem serem "convidados" ou que gostem de gêneros pornográficos que tratam e reproduzem o estupro como fetiche. Cuidemos para que nossos pequenos se tornem grandes homens capazes de ver nas mulheres companheiras de caminhada, de luta, de vida. Que não as enxerguem como serventes, como seres menores, como objetos. Cuidemos para que nossos meninos entendam, respeitem e admirem o sentido mais completo de ser mulher.


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