sexta-feira, 27 de maio de 2016

Antiga ocupação da Telerj vai virar condomínio

No capitalismo é assim: enquanto uns sofrem, outros lucram com o sofrimento. Em abril de 2014, cinco mil pessoas foram violentamente expulsas da Favela da Telerj, no Engenho Novo. O terreno, abandonado há mais de 20 anos, sem qualquer utilidade, havia sido ocupado em março daquele ano por famílias que não tinham casa ou condições para pagar aluguel.  

Família atacada por gás de pimenta. Foto da internet.
O Batalhão de Choque da Polícia Militar atacou com gás lacrimogêneo e spray de pimenta crianças, jovens, idosos, gestantes... Sem critério. Não houve resistência dos que lá viviam. Mas houve reação fortíssima nas ruas. O senhor prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, veio a público, na época, dizer que sua reação às ocupações era e seria sempre contrária. "Invadiu? Ocupou no peito e na raça? A prefeitura do Rio não vai desapropriar a área para construir", disse em entrevista coletiva.

Dois anos depois, recebo na rua um panfleto do "mega lançamento" da Zona Norte. O "Único". Empreendimento imobiliário com lazer para toda família. Aonde? Rua Baronesa do Engenho Novo, 414. No terreno da antiga Telerj. No palco de uma das reintegrações de posse mais violentas e desproporcionais do Rio de Janeiro.

Muitos alertaram que a razão para tamanha brutalidade da polícia só poderia ter uma motivação: a especulação imobiliária. Agora, os mais céticos já podem ter certeza: era, de fato, a especulação que não permitiria perder um terreno tão grande para pobres que não tinham onde morar. Muitos não tinham sequer renda. Inúmeras famílias acamparam em frente a Prefeitura do Rio em busca de uma solução para sua dor. Em busca de casa. Foram ignoradas. Migraram para a Catedral Metropolitana do Rio. Ficaram do lado de fora. Cáritas, sindicatos e pessoas físicas doavam alimentos, roupas e agasalhos. Mas a Arquidiocese lamentavelmente não abriu as portas para aquelas famílias.

Embora fosse permitida por lei, a Prefeitura do Rio não desapropriou o terreno. O destino daquele imóvel já deveria estar acertado. A página do empreendimento no Facebook foi criada um ano depois da violenta expulsão dos moradores da Favela da Telerj.

O novo condomínio terá cotas para o programa Minha Casa Minha Vida. Mas, com unidades a partir de R$ 185 mil, estarão descartados os perfis das pessoas que de lá foram expulsas.

O capitalismo é assim. Trata como cidadão quem tem poder de compra. Joga fora os menos favorecidos. 



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